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OS HABITANTES

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Mensagem por † Lobo † Sáb 3 Dez 2011 - 2:31

A viagem já está quase na metade, o velho
ao lado dorme quase encostado em mim, estas poltronas da classe
econômica não são muito confortáveis; prefiro concentrar-me na leitura,
os velhos livros da estante do meu tio Thomas sempre me foram muito
úteis. Alguns de seus livros sempre me acompanham:

“Nós que
pertencemos a quinta grande raça devíamos estar, atendendo ao nosso
estado de civilização, absolutamente livres de um tão terrível destino, e
realmente assim o é, tanto que essas entidades são hoje consideradas
apenas como fábulas da Idade Média. Contudo há exemplos do seu
aparecimento, principalmente em povos onde há ainda uma forte corrente
de sangue da quarta raça, como na Rússia e na Hungria. As lendas
populares são evidentemente exageradas mas, no fundo, há qualquer coisa
de verdade, de impressionante realismo, nas estranhas histórias que
ainda hoje correm de boca em boca entre os camponeses da Europa
Central.”

O livro “O PLANO ASTRAL” de C.W.Leadbeater teve
grande contribuição para que eu me sentisse atraído pelos habitantes da
área rural da Hungria, se algum colega da universidade me vir lendo isto
dirá: “Literatura Sensacionalista”, mas eu nunca fui ortodoxo. Ter a
mente aberta para mim é diversão.

O letreiro da pensão aparece
em meio à fina chuva que cai neste fim de tarde de outono, os dias
acabam cedo nesta época. A mulher que vem me receber aparenta 25 anos,
usa um longo casaco e não sorri, mas é bela:

- Pode entrar, já estava à sua espera, Sr. Erich.


- Gostaria que me mostrasse meu quarto, estou exausto.

A mulher faz um gesto para que a siga, abre a porta do quarto:

- A propósito, meu nome é Veluma, e serviremos o jantar daqui à uma hora.

- Obrigado, Sra. Veluma.

Veluma coloca uma esfumaçante sopa em meu prato, é estranho, mas só temos nós dois para o jantar:

- Podermos parar com a formalidade e nos tratar por Veluma e Erich?

- Sim, Erich, a que devemos sua visita a esta cidade?


- Faço doutorado em Antropologia do Mito e vim entrevistar alguns habitantes desse lugar.

- Posso saber qual é o mito que mais lhe chama atenção?

- O mito dos vampiros.

- Sua Universidade fica no Reino Unido?

- Sim, Universidade de Cambridge, mas nasci em Londres.

Após
o jantar preferi me recolher, preciso acordar cedo. A cama está quente e
o sono chega rápido. A imagem de uma coruja sobrevoando invade minha
mente. Abro os olhos e observo um velho relógio na parede que marca uma
da manhã, esta mulher me deixou impressionado, preciso dormir. Eu ouvia
choro de crianças, abro os olhos e passo a mão pela fronte que está
suada apesar do frio; o relógio marca três da manhã.

Pela manhã o café já estava na mesa posta. Veluma deve o ter preparado e voltado para o seu quarto.

A
zona rural fica a menos de 1km, no meio do caminho um grupo de mulheres
surge cantando, estão acompanhando um funeral, os homens seguem atrás,
que estranho, eu me aproximo de um dos homens:

-Com licença, por que esse canto das mulheres?

-Serve para para ajudar a alma do falecido encontrar o caminho e não se tornar um vampiro.


Continuo
a minha caminhada e, finalmente, avisto a aldeia, casas simples, em
frente a uma dessas casas uma senhora está sentada em uma cadeira de
balanço. Aproximo-me:

- Bom dia, senhora.

- Bom dia , jovem.

- Meu nome é Erich O’nil e estou fazendo uma pesquisa nesta região.

- Meu nome é Valentina Odrioni, em que posso ajudar?

Erich pega sua prancheta e começa a fazer anotações:

- A senhora conhece alguma história sobre vampiros ocorrida por essas bandas?

- Sim, nos dias santos os vampiros e espíritos sombrios se reúnem para planejar ataques, a minha família já sofreu um.

- Conte-me como foi este ataque.

-Eu
estava com uns 10 anos, já passava da meia-noite e minha família
estava reunida perto da lareira ouvindo histórias de meu avô. Bateram na
porta e meu pai não nos deixou abrir, àquela hora só podia ser um
vampiro.- De repente ela para de falar.


A entrevista com a
Sra. Valentina continuou, ela narrou várias histórias, também conversei
com vários outros camponeses, eles dizem que os vampiros se alimentam do
sangue dos seus familiares, dos animais e, quando possível, dos
vizinhos. Outra história da Sra. Valentina: Eu estava com 17 anos e
avistei um círculo de grama queimado, me aproximei e, dentro do círculo,
estavam três lindas mulheres que cantavam e dançavam, depois lançaram
feitiços sobre os vizinhos. Até hoje muitos ouvem as vozes destas
mulheres, os galos e galinhas começam a cacarejar diferente, e dizemos
para as crianças: Elas estão passando, fiquem quietinhos, se vocês
falarem suas bocas vão ficar tortas.

Apesar de muitas destas
histórias parecerem coisas inventadas pelos mais velhos para assustar
crianças; pude observar várias tranças de alho pendurada na porta das
casas. Até então nada de anormal, não fosse o fato de estarem para o
lado de fora. Nestas aldeias isoladas muitas pessoas encaram certos
mitos como entidades reais.


Um camponês me apresentou um
bibliotecário aposentado Sr. Raymond Backer, que, prontamente me mostrou
um arquivo de documentos com relatos de casos de vampirismo que
recolheu quando trabalhava em outra cidade. Dentro da pasta vários
papéis amarelados; leio com muita atenção:

“Romênia, Crassova – 1889: Trinta cadáveres foram trespassados por estacas no seguimento de manifestações vampíricas”.

“Jugoslávia,
Kneginecc - 1936: Diversos casos de vampirismo, atribuídos ao cadáver
de uma mulher nova, enterrada no século XVIII no castelo de Herdody, em
Varazdin”.

Lendas, superstições, alucinações ou verdadeiras
manifestações vindas de além túmulo? O dia foi bastante corrido. Sr.
Raymond foi o único entrevistado que anotei o endereço.

Tomo novamente a esfumaçante sopa na companhia de Veluma, que me convida:

- Gostaria que me acompanhasse em um chá que sirvo às vinte e três horas.


Os
penetrantes e persuasivos olhos de Veluma me convenceram a acompanhá-la
neste chá, me sinto cada vez mais atraído por sua peculiar beleza.

Veluma enche minha xícara com um chá de aroma cítrico, esvazio a xícara e me despeço, estou sem forças.

Deitado na cama com as cobertas até o pescoço sinto um sono estranho, como uma embriaguez. Fecho os olhos.

Meu corpo parece estar flutuando sobre a cama, sinto uma mão gelada segurar meu pulso, olho, é Veluma:

-Venha, vou te mostrar coisas jamais vistas por alguém como você.

- Ela me puxa e logo estou em um estábulo na aldeia:

- Veja o objeto de suas pesquisas.

-Olho
para o interior e vejo vários vultos atacando um pobre animal que não
pára de gritar, pois o sangue está jorrando, uma das criaturas olha para
mim, tem os olhos vermelhos como rubi, sorri, Veluma segura minha mão:

-Venha, vou lhe mostrar outras coisas.

-
Eu a sigo e como num passe de mágica nos encontramos em um quarto
aonde uma mulher se insinua para um homem que lhe oferece uma certa soma
de dinheiro, ela tira a roupa e o acaricia, os dois caem na cama, olho
para Veluma, que compreende minha estranheza:

- Olhe novamente.

-Olhei
novamente e uma luz de cor avermelhada envolvia o casal, o que
aconteceu depois foi algo indescritível. As mesmas criaturas em volta,
desta vez como que se alimentando daquela atmosfera que se formava
naquele ambiente, mais uma vez uma das criaturas me fitou e sorriu, pude
perceber seus enormes caninos afiados.

Veluma olhou para mim e disse:

-
Estes são vampiros do nível mais baixo, agora vou lhe mostrar uma
outra classe dessas criaturas. - Me puxou pela mão e, como em um passe
de mágica, estávamos na sala de um casarão do século passado.


Várias
pessoas vestidas elegantemente de negro, música clássica... Enfim,
tratava-se de uma festa, o lugar era rodeado de românticos jardins,
todavia, cada flor parecia exalar um estranho hálito de morte. Um senhor
elegante entrou acompanhando três moças que pareciam estar adormecidas,
sonâmbulas; no meio do salão, depois de despi-las as pessoas avançaram
sobre as moças, cinco ou seis para cada uma, o sangue jorrava, além de
sugarem o sangue, aqueles malditos vampiros copulavam com as jovens que
pareciam nada sentir.

Veluma me tirou daquele lugar tenebroso estávamos agora em um terreno descampado:

-Eu
também sou um deles.- E exibiu seus caninos afiados - Mas não tema, não
sou como eles. Por mais tenebrosa que seja uma criatura ela possui uma
antítese de luz, aquelas criaturas, por mais perversas que possam
parecer vivem se lamentando dos crimes que cometem. Quando eu parei de
me lamentar e apenas reconheci minha condição eu consegui elevar-me um
pouco. Talvez um dia eu possa ver a luz do sol novamente. Não vamos mais
nos ver, mas eu quero que fique com uma lembrança deste momento.


Veluma
coloca a mão no decote do vestido; meus olhos se fixam em seus
voluptuosos seios, ela pega um papel e coloca no bolso do meu paletó.
Depois, segura meu pulso e, sem que eu possa me defender, crava seus
dentes - sinto uma dor que jamais experimentei.

Abro os olhos e o
ponteiro do velho relógio marca seis horas da manhã, tudo não passou de
um terrível sonho, sinto-me cansado. Levanto-me e chamo por Veluma,
nenhuma resposta, essa pensão parece um lugar abandonado, como não pude
perceber? Saio, o dia está cinzento e frio. Coloco a mão no bolso do
paletó, um papel, não pode ser, nele está escrito:

No jardim dos
Deuses existe uma macieira na qual somente os nobres de coração podem
comer de seu fruto; os perversos até se aproximam dela, mas
enlouquecidos não a compreendem.

Veluma Tepes

O papel está levemente sujo de sangue.
† Lobo †
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