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O CEIFADOR

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Mensagem por † Lobo † Sáb 4 Fev 2012 - 18:01

Essa história aconteceu no outono de 2001, quando eu tinha 17 anos.

Eu moro nessa casa desde os meus 7 anos de idade. Para entender melhor o que causou essa estranha e extremamente tétrica manifestação, eu vou ter que relatar um pouco do meu passado e da minha infância. É, na minha opinião, a origem, a semente que germinou e se transformou em algo que me faz, até os dias de hoje, olhar sobre o meu ombro antes de deslizar para o mundo dos sonhos.

Eu posso me lembrar perfeitamente daquele dia, cada detalhe dele. Eu tinha 5 anos na época, e eu me culpo por tudo. A minha mãe tinha ido trabalhar mais cedo naquele dia,e uma mulher loira veio para casa com os dois filhos dela. Eu não entendia nada de romance e compromisso naquela idade, e não achei estranho quando a filha mais nova dela, Eliza, veio correndo para mim com a grande noticia do dia "Adivinha o que?" "O que?" "A minha mãe e o seu pai estão beijando!" Eu fico encabulada de dizer que na hora nós dois rimos um pouco.

Eliza (que tinha mesma idade que eu, 5 anos) fez aquilo parecer tão grande, excitante e único! Não foi surpresa que, quando a minha mãe chegou do trabalho, eu simplesmente tinha que contar para ela aquela grande notícia! A minha mãe explodiu! "ELE O QUÊ....?!!!" Eu me lembro do meu pai gritando tão alto que eu me senti como um pequenina e frágil estátua, tão assustada que nem conseguia respirar. Eu senti que era a minha culpa. Aquela culpa caiu em mim por algo que eu não tinha idéia que fosse errado.

Nem preciso falar, nós saímos de casa para longe dele, para uma casa pequena e apertada, só eu e a minha mãe, sozinhas. Eu sempre perguntava porque eu não podia ver o meu pai, e chorava muito. Eu me lembro de me transformar em uma criança muito quieta, muito triste no fundo da alma.

A minha mãe eventualmente encontrou alguém que poderia nos sustentar melhor, nos dar mais estabilidade, mas por dentro eu continuei do mesmo jeito.

Eu cresci com aquela culpa dentro de mim, e nunca me importei e processar tudo. Eu também acabei virando aquela criança que os outros pegam no pé na escola. A minha adolescência foi dura e severa. Eu estava muito confusa com tudo. Eu bebia muito até não sentir mais nada, e sempre procurava por amor, enquanto não me sentia nem um pouco amada e de certo modo rejeitada. Eu confiava nas pessoas, e sempre acabava sendo pisada. Eu sentia que aos 17 anos a minha dignidade estava destruída, e que talvez amor verdadeiro era apenas um conto de fadas, e foi então que aconteceu!

Eu estava me sentindo totalmente desnorteada e abandonada naquela semana. Eu e a minha mãe estávamos tendo problemas para nos comunicar, e tudo estava dando errado. Começou com esses sonhos extremamente reais, dessas criaturas negras, sorrateiras e malignas, sem rosto para identificá-las. Nesses sonhos elas rondavam camas de hospitais de pessoas que estavam morrendo, as vezes eu acordava, sentindo que estava sendo acariciada por uma delas. A única classificação que eu tenho delas é que eram os ceifadores da morte.

Sombras sem faces, mascaradas pela escuridão, elas me aterrorizavam no meu subconsciente (nos meus sonhos). Eu nunca tive sonhos tão vívidos e repetidos. Eles finalmente acabaram uma noite quando eu estava deitada na minha cama. No meu sonho eles estavam em volta de mim, me cercando na minha cama. Então eles começaram a rasgar a minha pele, cavavam o meu corpo em busca da minha alma, roubando o meu fôlego.

Eu acordei completamente suada, sentindo o conforto do leve abraço do meu lençol. E, quando eu olhei para frente, havia um deles, na frente do meu armário! Eu não conseguia respirar de novo. Eu pensei que aquilo fosse sumir se eu esfregasse os meus olhos, mas quando não sumiu, eu entrei em pânico. Eu queria gritar. Eu podia sentir o meu corpo inteiro gritando por dentro. A última coisa que eu me lembro foi aquela figura envolta em sombras esticando o braço, como se dissesse "Venha comigo."

Pareceu uma eternidade, mas finalmente eu me levantei e corri para fora do meu quarto. Depois de ter esfregado os olhos duas vezes, eu sabia que aquilo não era um sonho. Você pode questionar a minha sanidade, tudo bem por mim. Mas eu sei da verdade, você não! Eu estava lá.

Eu ainda olho por cima do meu ombro todas as noites antes de dormir, mas eu nunca mais vi ele.

Camila - São Paulo - S.P.
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Fonte: alemdaimaginacao.com
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